Uma das técnicas fundamentais utilizadas no processo de investigação é a observação, em qualquer uma das formas em que se processe. Quer a observação assuma uma dimensão mais ou menos estruturada, ou mais ou menos participante, ela pretende sobretudo, observar e registar dados para futura análise (Bell, 1997). A importância da observação pode ser verificada pela descrição que dela fazem Quivy e Campenhoudt (1998: 196) quando afirma que «constituem os únicos métodos de investigação social que captam os comportamentos no momento em que eles se produzem». Daí a vantagem na observação e registo de afirmações não verbais, de práticas rituais de cariz cultural e social, bem como da interacção social verificada (Quivy e Campenhoudt, 1998). Elementos de informação que, segundo Costa (1999: 141) «passam despercebidos à consciência explícita dos actores sociais». Uma espécie de espinha dorsal do trabalho de investigação; ou de primado da observação metódica (Deshaies, 1997; Costa, 1999). Por estas ideias se verifica que a observação obriga a uma presença sistemática e organizada do investigador no local de pesquisa, de forma a obter dados para posterior análise, tentando, neste processo não criar modificações na dinâmica social ou mesmo induzir alterações no comportamento dos actores em presença (Peretz, 2000). Reafirmando esta ideia Peretz (2000: 24-26) refere que «a observação directa consiste em ser testemunha dos comportamentos sociais dos indivíduos ou grupos nos próprios locais das suas actividades ou residências sem lhes alterar o seu ritmo normal». Para caracterizar as dimensões da observação Deshaies (1997: 296) fala «de observação do tipo sistemático ou voluntário, isto é, organizada, pretendida e deliberada». E separa-a em observação directa e indirecta, dividindo ainda a primeira em observação intensiva (de indivíduos) e observação extensiva (de grandes grupos). Ainda relativamente às matérias de observação, pode referir-se a possibilidade do investigador puder observar, no âmbito do comportamento dos observados, por um lado os acontecimentos de rotina (actividades do dia a dia); por outro lado os acontecimentos especiais (fortuitos mas previsíveis); e ainda por outro os acontecimentos adversos (situações de crise, não previsíveis) (Burgess, 1997). A observação é destacada, no seu contexto de processo social, como uma forma de mediatização simbólica dos depoimentos dos agentes sociais, problema que o investigador não deve relevar (Pinto, 1997). Por conseguinte, e conforme referem De Ketele e Roegiers (1999: 23-25) «a observação é concebida em função de um quadro teórico de referência...orientado por um objectivo final e organizador [e que não pretende] o discurso do sujeito [mas os] comportamentos observáveis».
Se a observação permite chegar a algumas características, opacas, dos indivíduos e grupos em análise, ao invés de outras técnicas, significa que devemos ter com ela alguma atenção no planeamento e na sua condução, de forma a tirarmos o maior partido (Bell, 1997). Até porque como referem Silva e Pinto (1999: 58) «a estratégia teórico-metodológica de pesquisa tem de englobar uma componente adequada à objectivação das formas e processos de inteligibilidade...». E é isso que a observação permite fazer, pois, permite ler para além das representações dos actores que são habitualmente verbalizadas. E isso é possível quando o investigador revela familiaridade social ou metodológica com o contexto de forma a obviar potenciais interferências no processo. Como diz Costa (1999: 135) «a interferência não é, pois, simplesmente, um obstáculo ao conhecimento sociológico mas também um veículo desse conhecimento». É claro que tudo isto pode implicar uma dimensão mais participante do investigador, como contraponto à sua distanciação (Costa, 1999).
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[HFR-2004]