sexta-feira, janeiro 28, 2005

Um conto de Abril, no Brasil

«A malta rumou toda para a cidade e a manif foi engrossando, como o rio Arade nos tempos de chuva quando as águas barrentas trazem as laranjas de Silves, até chegar ao centro, passados cerca de 20 minutos. Acho que fomos todos correndo. A cidade estava cheia de pequenos comícios com conhecidos, os mais velhos dos democratas orando de varandas de advogados, o Cantos Linas, o Carolino, bem falantes e organizados. Mas o que a malta nova queria era dar cabo da sede da polícia política.». Pode ler, na íntegra, o meu conto “Trinta Anos Depois”, publicado na revista brasileira «Bestiário».

A MÃO INVISÍVEL DO MERCADO

[crónica publicada hoje no jornal «barlavento»; não disponível online]

No jornal «O Louletano», de 21 de dezembro passado, os comerciantes louletanos da ACRAL - em tempos natalícios de miséria de compras -, viraram as armas para os comerciantes oriundos da China, acusando-os de actividades comerciais eivadas de ilegalidades e sem vigilância. Até aqui, tudo bem, apesar de não serem apresentadas nenhumas provas. Só que a linguagem utilizada, é a manifestação latente de uma xenofobia que pode abrir caminho a discrimações intolerantes.
Pelo vistos o conceito de mercado (leia-se mercado livre para a concorrência entre produtos e empresas) só serve quando interessa aos próprios. Um sentido unívoco que a globalização económica e a mundialização da economia destruiu, extremando a concorrência desenfreada, a deslocalização das empresas e a exploração da mão de obra mais barata. Assim, tudo é possível e o mercado aberto tem destas coisas: a concorrência de produtos baratos a cento e cinquenta ou a trezentos, o uso da mão de obra familiar e a expansão do consumo popular. Ora é exactamente este consumismo que não quer saber das ameaças dos monstros das grandes superfícies que vendem tudo - e até o lazer do fim de semana – ou da beleza arcaica do contraste do comércio tradicional que já tem muito pouco, ou nada, da tradição. Há mais de duzentos anos, o economista Adam Smith criou o conceito célebre da “mão invisível” do mercado. Ora, esta mão invisível já não é a mão da ACRAL, nem a mão dos comerciantes oriundos da China. A mão, bem visível, é a do capitalismo globalizado e dos monopólios que o sustentam. Algo que os estados cada vez mais propiciam e aos quais se subjugam, na sua crescente gestão do estado mercantil. Por estes dias o presidente da nossa república esteve na China, isso mesmo, a dar uma mãozinha.
Mas a atitude perante os estrangeiros tem ainda este sentido: só nos interessam os que nos favorecem! Que venham jogadores de futebol para as lusas equipas, engrossar as contas de clubes SAD e trabalhadores para as empresariais obras, pois sim! Mas outros, que nos façam concorrência, nem pensar! Pois é, o Francis Obikwellu é um excelente paradigma: “é um preto nigeriano a trabalhar nas obras”; depois “é um português genuíno medalhado nas olimpíadas”. Anda aqui a “mão invisível” a criar estereótipos sobre os estrangeiros. Esterótipos perigosos.

Bolonha à lupa

O professor João Vasconcelos Costa analisa os meandros dos pareceres das equipas portuguesas sobre o processo de Bolonha. Leia o seu artigo no «Público».

quarta-feira, janeiro 26, 2005

As palavras dos alunos

Como docentes, lemos e apreciamos muitos trabalhos escritos. Alguns de lavra individual outros, quase sempre colectivos. No princípio do ano desafiei os meus alunos do 1º ano de Educação Comunitária a escreverem um texto, livre, sobre uma experiência que considerassem integrada no conceito de prática comunitária. Qualquer experiência pessoal, colectiva, institucional ou de comunidade que conjugasse elementos educativos, culturais e de partilha de saberes, em comunidade. Por estes dias, quando mos apresentaram e os li, para avaliar, encontrei de tudo: histórias dolorosas das famílias, neste país de brandos costumes, violências simbólicas e outras, sobre desfavorecidos, a aprendizagem da tradição cultural e social, etc. Um dos textos destacou-se, pela sua afectividade e pela solidariedade com minorias sociais e culturais, para além da beleza da sua escrita. O texto [na verdade o extracto que mais interessa, com título meu] relata uma vivência de facto, o que pode ser sentido pela sua leitura, e por isso esta aluna pediu-me discrição e escolheu um pseudónimo para assinar, quando a desafiei a publicá-lo num blog de suporte e por estes tempos no jornal «A Voz de Loulé»!

O processo de Bolonha

Caros alunos: e se aproveitassem a interrupção de semestre para ir lendo algo sobre o processo de Bolonha. Qual processo? Aquele que determina a vossa vida, ora pois!

terça-feira, janeiro 25, 2005

Problemáticas actuais: avaliação das conferências

I – Património e associativismo:
1. O património cultural– Soraia Morais = 14.5
2. Desvalorização do património cultural – Sara Duarte = 14.5
3. O papel da educação comunitária no processo de desenvolvimento local – Cátia Gomes = 14
4. Práticas realizadas no ano lectivo de 2003/04 – Inga Neves = 14
5. Democracia e cidadania participativa – Ana Rita Brito = 14.5
6. O papel e a importância do associativismo – Sílvia Vieitas = 13
7. A importância das associações para o desenvolvimento – Vera Afonso = 14
8. O artesanato – Carina Dias = 15
9. Associativismo – Jesica Dias = s/ elementos
II – Globalização e educação:
1. Globalização – Linda Vieira = 15.5
2. Globalização cultural – Patrícia Carolino = 14.5
3. A acção educativa de Paulo Freire e a relação com a pedagogia de Jesus Cristo – Isabel Lopes = 16.5
4. A educação comunitária e o educador comunitário – Helena Rodrigues = 13.5
5. Educação pela arte: a arte no reencatamento do mundo – Nuno Martins = 13.5
6. A educação e intervenção comunitária nas comunidades piscatórias – Marina Machado = 14.5
7. A educação dos nossos dias – Anabela Guerreiro = 14.5
8. O voluntariado – Alexandra Vilaça = 15
9. Globalização e media – Carla Sousa = 15
10. Identidade cultural e religião – Telma Sousa = 13.5
III – Minorias:
1. Trissomia 21 – Elisabete David = 15
2. Minorias étnicas e cultura – Telma Victor = 15
3. Minorias étnicas e educação – Susana Martins = 16.5
4. O envelhecimento e a terceira idade – Jorge Ervideira = 14.5
5. Alcoolismo – Andreia Cordeiro = 14
6. O jovem na Europa – Patrícia Branquinho = 15.5
7. Educação formal e não formal de crianças e jovens – Ana Rita Sousa = 16.5
8. Os sem-abrigo sob um ângulo sistémico – Cátia Oliveira = 14.5
9. A terceira idade e a solidão – Patrícia Machadinho = 14.5
10. Exclusão social – Ana Moreira = 15.5

sexta-feira, janeiro 14, 2005

O real e o virtual

«Os meios tradicionais de reprodução dos saberes, a escola e a família perderão cada vez mais importância como factores de socialização substituídos pela publicidade, a televisão, a moda, as conversas virtuais, os grupos juvenis. Ganharemos menos, saberemos menos, viveremos mais, teremos mais coisas para comprar e mais baratas (as lojas chinesas são um exemplo), mas cada vez mais o que fazemos será virtual e não real. A separação entre ricos e pobres far-se-á pelas literacias e pelo preço elevado do real e barato do virtual (já começa a fazer-se nos países mais desenvolvidos). Etc., etc., etc.» Pacheco Pereira no «Público». Clique na palavra sublinhada para ler o texto completo.

A cultura cigana na escola

A Sic deu e propalou a notícia: na Escola do Ensino Básico da Coca Maravilhas em Portimão, pais de origem cigana entram na escola para bater em duas professoras, após uma repreensão a um dos seus filhos, por motivos de um despique entre alunos. Para dar a dimensão multicultural da escola, a jornalista diz que a mesma tem alunos de 21 etnias, que depois corrige para nacionalidades. Na verdade, sendo verdade a segunda asserção e não a primeira, isso não traz problema nenhum. Ouvida a presidente do conselho executivo, esta diz: "os ciganos têm uma forma própria de funcionar, têm mais solidariedade e pensam que podem fazer justiça pelas suas próprias mãos". Ora bem, sabemos que a entrada, na escola, de etnias diferentes traz com ela a entrada das suas diferentes culturas, com as quais é preciso lidar de forma intercultural, isto é, negociando as normas inerentes a cada cultura num processo participado por todos. A entrada de alunos de etnias diferentes na escola, designadamente da etnia cigana não deixa à porta da escola os seus traços culturais. Habituados à segregação e cultivando uma cultura baseada na desconfiança do "gadjo" [o não-cigano] e afastados da escola, enquanto marca educativo-cultural dos povos sedentarizados, os alunos ciganos ainda não integraram, no seu mecanismo cognitivo e cultural, os climas fechados, disciplinados e normativos dos espaços educativos. Isso deve entender-se, porque a única maneira de lidar com as diferenças étnicas é perceber as diferenças culturais de cada um. Acresce que esta escola se situa numa complexa área de realojamento habitacional, de uma enorme complexidade, que mostra a guetização dos moradores vindos de áreas degradadas, abandonadas ou destruídas pela industrialização. Afastados dos centros de decisão e pour cause, dos centros do poder, a tendência não é só fazer justiça pelas suas próprias mãos, quer seja a justiça cigana ou a justiça lusa; nestes locais fomenta-se a xenofobia e o racismo, muitas vezes estimulado pelos media no seu papel de busca e promoção do reality show, da degradação humana.
Moral da história: quase sempre a xenofobia não está nas nossas declarações de intenção, quase sempre pretendemos afastá-la da nossa prática, mas ela espreita sempre que entra em risco a estabilidade dos "nossos valores" culturais.

[publicado no jornal «barlavento» de 18 de novembro de 2004]

quarta-feira, janeiro 12, 2005

A reprodução do "habitus"

No Abnoxio Ademar escreve sobre a auto-representação dos professores no que respeita aos seus direitos como tal e sobretudo na visão que têm, desde sempre, sobre a importância das aulas e da avaliação na sua vida. Como em breve escreverei sobre o assunto queria, aqui e agora, apenas dizer que estou em absoluto acordo com o seu post. Em geral as escolas e os professores adoptam o primeiro modelo de que ele fala. A razão é simples. Escolhem reproduzir culturalmente o padrão de "habitus" cultural em que foram formados. Todo o ensino está montado nesta desculpa da avaliação escolástica e qualquer mudança não é compreendida. E só isso justifica a defesa de algumas horas não lectivas fora da escola como se de um direito social se tratasse. E, exactamente, se as horas dedicadas à profissão não devessem ser todas submetidas ao outro elemento primordial da educação: o aluno.

domingo, janeiro 09, 2005

A serventia dos educadores comunitários

Glosando uma parte do texto de Ademar Santos, abaixo referido, poderia dizer que ainda não percebi muito bem a serventia dos educadores comunitários, mas hei-de lá chegar. Desafio os/as alunos/as do 4º ano a responder a esta minha ignorância. Basta escreverem, num máximo de cinco linhas, as vossas respostas e enviarem para o E-mail habitual. Para as melhores três respostas (seleccionadas por alguém imparcial) haverá prémios (livro e cds). Que tal?

sexta-feira, janeiro 07, 2005

A construção de uma resposta

A propósito do post aqui em baixo, e dos comentários que vão surgindo, parece-me que é interessante ir preparando uma resposta elaborada ao assunto. Para começar vamos coligir algum material de apoio, e podemos começar pelo plano curricular do curso, podendo ainda linkar o relatório de auto-avaliação, na página do mesmo.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Toma lá ó educador!

Leiam este excerto: «Ainda não percebi muito bem a serventia dos educadores sociais (perdoa-me, Cristina!), mas hei-de lá chegar. A sociedade, não há dúvida, precisa de ser educada e como as famílias, as escolas e os educadores em geral não dão conta do recado, por que não formar "especialistas" para a nobre e ingente função?... ». Ademar Santos no Abnoxio.
Já leram? Então agora cliquem na palavra sublinhada acima para ler o texto integral!
Já o leram todo? Então quem quer responder a esta inteligente provocação? Basta clicar nos comentários e deixar lá algumas palavras!

terça-feira, janeiro 04, 2005

Meta-Blog do Ensino Superior

O post abaixo é o primeiro vertido para a minha colaboração no blogue dos blogues do ensino superior.

Premonição pós-natalícia

Passadas as férias do natal e sentado no computador do gabinete o primeiro mail que leio é do meu colega AF:
«Caros Amigos: É com muita pena que vos anuncio que o nosso projecto não teve financiamento, como aliás 99% dos projectos das pessoas que conheço (isto deve ser mau sinal, não é?). Da súmula da avaliação que vi na Net, há um ou dois pontos nos quais reconheço alguma justiça, nos noutros nem por sombras, mas não pedi para a FCT o relatório completo da avaliação. Há aliás outros pontos em que sei que estávamos fracos...».
Respondo:
«AF: as razões terão mais a ver com "mau sinal, não é?", do que com o resto. No actual quadro era de esperar isto. Aliás ontem estive a pensar no assunto e a concluir que a FCT (por interposição do governo) não iria aprovar quase nada. Como é que baixam o défice para 3%? Poupando nas despesas de investigação, claro está. Abraço do HFR e agradecimentos pelo teu trabalho».