Ontem discutia, com os meus alunos de Ciências da Comunicação, como é que a cultura dominante – cultura da classe dominante segundo Bourdieu –, consegue reproduzir-se e legitimar-se nas várias hierarquias do poder. Uma das formas de impor o seu arbítrio cultural é através de fórmulas de união e de separação. Por isso se diz que a cultura dominante ao mesmo tempo que une, separa. Para ilustrar dei o exemplo da presidência da Liga de Clubes em Portugal na qual, a um Loureiro, sucede outro Loureiro. Apesar de não serem da família, o facto tem graça e é paradigmático. Na verdade apesar de Valentim dizer que não propôs Hermínio, não deixa de dizer que o apoiou; aliás é presidente da sua Mesa. Hoje, nas notícias da tomada de posse, enquanto o presidente do Nacional da Madeira, chamava empregado e cantador de galo a Hermínio Loureiro, este discursava contra as tropelias do futebol dizendo que todos atiram lama à ventoinha que assim a todos conspurca. Valentim deu-lhe os recados públicos da sucessão, como fez ao filho de forma privada, nos tempos do Boavista: acabe com a indisciplina da Comissão de Disciplina (belo a contrario sensu) e com os malandros dos árbitros que não vêem bem os lances.
Enfim, Valentim continua presidente de Câmara. E Hermínio é o novo presidente da Liga; antes foi secretário de estado do desporto. Ambos são Loureiros. E assim vai a cultura dominante.