METODOLOGIA DE PROJECTOS: O CASO DOS PROJECTOS SOCIAIS
(alguns apontamentos)
Segundo Randolph e Posner (1988) «todas as pessoas são gestoras de projectos, nem que seja o da sua própria vida». Apesar da sua diversidade eles integram características comuns: i) Têm um princípio e um fim, uma duração; ii) Têm um prazo de finalização; iii) Têm um sentido de oportunidade único, têm objectivos, como por exemplo dar formação, para exercer uma mudança qualitativa posterior; iv) Têm envolvimento de pessoas numa base temporária; v) Têm um conjunto limitado de recursos, o que muitas vezes condiciona a acção; vi) Têm uma sequência de actividades e de fases, bem previstas no projecto escrito.
a) Projecto de acção educativa/projecto educativo: Tem origem em membros da comunidade escolar (alunos, professores, administrativos, pais). Visa o aluno como formando ou indivíduo e pretende estabelecer regras e interacção na comunidade escolar.
b) Projecto pedagógico: Com origem num grupo de professores, constituindo uma equipa pedagógica, à qual se poderão ou não juntar os Conselhos Directivos e Pedagógicos. O projecto aplica-se na instituição escolar e visa treinar a execução de diversos conteúdos escolares.
c) Projecto institucional: Criado pela Direcção e equipa pedagógica e é relativo às próprias estruturas de funcionamento da instituição (para resolver um problema concreto de indisciplina, por exemplo).
d) Projecto de formação: Posto em funcionamento por formadores, juntamente com os formandos, podendo ultrapassar os limites da instituição (formação em animação comunitária, por exemplo).
Modelo A: O projecto serve de veículo à aquisição de conhecimentos, aptidões ou técnicas. A partir dele, os formandos conseguem sobretudo aplicar e integrar saberes de uma determinada área do saber, por meio de uma actividade investigadora. É o caso dos projectos realizados nos cursos de ciências sociais (teses, investigação, etc.).
Modelo B: O projecto é usado para desenvolver atitudes e aptidões gerais necessárias ao exercício da profissão. Não diz respeito a um conteúdo disciplinar e surge além dos estudos convencionais, respeitando geralmente a um problema da vida real. Conduz assim a um contacto e, portanto, a uma maior compreensão dos problemas e características da comunidade envolvente (projecto profissional, por exemplo na área da saúde comunitária). Acontece, quando médicos, professores e educadores etc., realizam acções de formação que visam enriquecer a sua forma de estar na profissão.
Modelo C: O projecto é, neste caso, algo de central e determinante no currículo. Os próprios conteúdos que irão ser estudados serão os que se revelem importantes, para o desenvolvimento do currículo. Acontece quando as instituições se organizam à volta de projectos, construídos pelos formandos e em que os conteúdos disciplinares são estudados porque traduzem as necessidades identificadas por eles durante a realização deste trabalho.
Assim, o projecto social é composto por cinco elementos fundamentais: i) Descrição do que se pretende alcançar, indicando a finalidade; ii) Adequação às características do contexto e das pessoas; iii) Dados e informações técnicas e instrumentos de recolha de dados; iv) Recursos mínimos imprescindíveis à aplicação; v) Temporalização para a execução.
O projecto social implica um conjunto de condições decisivas, a saber:
- Uma reflexão segura e rigorosa sobre o problema que queremos melhorar;
- Consciência das múltiplas necessidades existentes, elegendo um problema concreto para resolver e que se apresenta como possível;
- Selecção de um problema concreto que se apresenta como viável;
- Apresentar uma proposta científica;
- Aplicação à prática;
- Abertura e flexibilidade em sua aplicação;
- Originalidade e criatividade;
- Partir sempre da prática, da óptica de quem vive o problema.
Segundo a mesma autora (1996), o projecto social é constituído por 10 pressupostos, como veremos de seguida, a partir das suas especificações:
Natureza do Projecto: Título do projecto, referido à instituição e serviço do qual vai depender.
Fundamentação: Especificação dos antecedentes do diagnóstico e justificação teórica e técnica do projecto. Pode incluir dados estatísticos, previsões do comportamento futuro e elementos da estratégia a seguir.
Objectivos: Resultados a obter com a execução. Eles devem ser realistas, claros e pertinentes; normalmente classificam-se em gerais e específicos.
Metas: Uma meta é um objectivo quantificado e qualitativo; assinala quanto queremos alcançar e com que qualidade. Devem ser realistas e alcançáveis.
Localização: Determinação da área geográfica e do lugar específico do projecto social.
Metodologia: A apresentação da metodologia implica a definição de tarefas, normas e procedimentos para a execução de um projecto. Pretende-se mostrar como fazer para atingir determinados objectivos.
Calendarização: Consiste num calendário de actividades e servirá de apoio à confecção de gráficos, designadamente ao cronograma de Gantt.
Recursos Humanos: Refere-se ao número e tipo de pessoas necessário à execução das actividades do projecto, bem como as suas responsabilidades.
Recursos Materiais: Definir instalações, materiais e instrumentos para a acção.
Recursos Financeiros: Constituído pelo financiamento do projecto.
A avaliação pode ser interna e externa. É interna quando é feita pelos participantes no projecto, podendo chamar-se de autoavaliação. A avaliação pode ser externa, quando feita pela entidade financiadora, ou mesmo por convidados externos.
Perrenoud enuncia algumas boas e más razões para que se proceda a uma avaliação interna de um projecto.
Boas razões: i) Saber o que fazemos, se queremos mudar realmente, ultrapassando a simples impressão de fazermos coisas interessantes. Trata-se de uma evolução para o passo seguinte, aprender com os erros e ultrapassá-los; ii) Possibilidade de elucidar o que é sucesso e insucesso, os impasses e o que resta fazer; iii) A avaliação interna é uma questão de sobrevivência e de respostas a interrogações exteriores, porque existem perguntas legítimas de pessoas que estão de fora (de opositores e de defensores e que querem saber o que se passa); iv) Documentação para nós próprios, porque perdemos a memória dos acontecimentos e dos detalhes que são para os outros fundamentos interessantes deste tipo de projecto. E permite reorientar a acção, obtendo instrumentos de avaliação; assim, aprendemos com o que fazemos.
Más razões: i) Hiper-racionalidade que existe nalguns projectos e que faz com que a avaliação tenha mais importância que a própria inovação/acção. Não ter em conta os objectivos, entregar-se às burocracias para que outros superiores fiquem com boa impressão; a imagem é mais importante que a consecução dos objectivos do projecto; ii) A avaliação pode significar um momento de acerto de contas, no interior de um projecto. Quem avalia quem? É uma ficção pensar que num projecto toda a gente tem igualdade de avaliação. É por vezes a ocasião de avaliar o trabalho dos colegas e dizer coisas pouco agradáveis de um modo pouco saudável a pretexto da avaliação; iii) A avaliação interna de um projecto é também um meio de poder; é um problema bastante corrente das hierarquias mediadoras no interior de um projecto, seja científico ou administrativo, ou os dois. É um papel muito difícil estar entre duas lógicas, entre o sistema e o interior do projecto (a avaliação é um instrumento de poder); iv) A avaliação é uma forma de assegurar prestígio e valorizar o que se fez. Nós não jogamos só o jogo da melhoria do sistema, jogamos também uma espécie de jogo pessoal (subvalorização e exagero).