A Investigação Qualitativa
1. O que é investigação qualitativa
O que caracteriza a investigação qualitativa (IQ) é a multiplicidade de métodos e técnicas utilizados, dada a cada vez maior complexidade das sociedades contemporâneas. Aliás, sem a dita mensurabilidade dos dados quantitativos – estatísticas, percentagens, médias, – a investigação qualitativa deve usar a maior variabilidade metodológica.
Segundo vários autores é essa complexidade de métodos, os quais determinam um conjunto de características, que define uma investigação como qualitativa. Bogdan e Biklen falam mesmo de um elenco de cinco características principais que a IQ apresenta:
a) O contexto natural/ecológico como fonte dos dados e dos processos de recolha e interacção do investigador e dos actores locais.
b) A descrição precisa e pormenorizada dos dados de qualidade: imagens, palavras, significados, ao invés de números.
c) O processo de construção dos resultados como elemento preponderante para a análise, secundarizando os resultados alcançados no final da investigação.
d) Utilização de análise indutiva, construindo hipóteses a partir dos dados e nunca deduzir hipóteses para confirmar ou rejeitar.
e) Importância decisiva dos significados atribuídos pelos sujeitos às problemáticas em investigação, com o objectivo de construir conhecimento em conjunto.
Outros autores explicitam ainda algumas características dispersas da investigação qualitativa:
i) Carácter sistémico da metodologia.
ii) Objectivo compreensivo e não preditivo da investigação.
iii) Comunhão de interesses e acções dos autores e actores do processo de investigação.
*
2. Design de investigação e triangulação dos dados
Podemos dizer que o sucesso do desenvolvimento do projecto de investigação depende quase exclusivamente de uma boa formulação das questões de investigação. Isto porque as questões de partida mobilizam diversos problemas: i) Vocações e disposições do investigador; ii) Existência de dados disponíveis em bibliografia e contextos; iii) Pertinência dos contributos teóricos ou práticos trazidos pela investigação.
A triangulação de dados é uma espécie de bola de dados que circula por várias provas, para que se comparem diferentes abordagens metodológicas. Isto permite o cruzamento de dados, teorias e perspectivas que acrescentam rigor, profundidade, complexidade e diversidade ao estudo.
*
3. Como se trabalha a IQ
a) Organizar os dados em memorandos e cadernos de campo, relatados de forma pormenorizada, compreensível e reflexiva.
b) Utilizar o maior número de dados disponíveis mas sem atropelos entre dados fundamentais e desnecessários.
c) Apresentar dados de forma gráfica e sintética.
d) Efectuar categorização adequada dos dados, de modo a facilitar a sua movimentação, a partir de gavetas separadas.
e) Desenvolver análises sequenciais de dados ao longo da investigação para permitir recomendações às perguntas de partida e às que se vão construindo.
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4. Exemplo de um design de investigação qualitativa
Pretende-se desenvolver uma investigação sobre a importância dos saberes populares na construção de um museu local comunitário, numa comunidade rural.
Como pergunta de partida coloca-se a seguinte questão: Que influência podem ter os saberes populares na definição do objecto museológico que enformará todo o processo de desenvolvimento de um museu local? A partir daqui pode desenrolar-se um conjunto de tópicos:
i) Que saberes populares podem ser considerados; o conceito de saber popular é idêntico para todos os intervenientes.
ii) Os saberes populares são considerados como tal pela população local ou são desvirtuados, desvalorizados ou representados.
iii) Esses saberes influenciam decisões de política de construção ou de política cultural; Serão eles representativos da comunidade.
iv) Porque não usar outro(s) tipo(s) de saberes, em exclusividade ou complementaridade.
De seguida poderiam apontar-se alguns objectivos operacionais para o estudo, designadamente:
a) Conhecer o conjunto de saberes populares da comunidade;
b) Desenvolver um processo de valorização comunitária desse saber;
c) Estimular a utilização desse saber nas acções e iniciativas a desencadear na comunidade;
d) Tornar alguns saberes populares, matéria-prima decisiva para a definição do museu local.
Dadas as condições conjunturais da aldeia de Alte, no barrocal do concelho de Loulé (Algarve) - dinâmica comunitária e associativa; diversos estudos científicos realizados; conhecimento do investigador; população aberta e disponível; fontes de informação sistematizadas; - esta poderia ser a comunidade rural escolhida para o estudo.
A investigação deve definir como população de estudo os moradores do aglomerado populacional de Alte, sede de freguesia, no conjunto dos seus vários grupos sociais e profissionais, que habitualmente se disponibilizam para estudos desta natureza.
As características deste estudo qualitativo deve determinar a utilização de estratégias metodológicas diversificadas, de entre as quais nos parecem fundamentais: o estudo etnográfico, a história de vida de líderes privilegiados da comunidade e a investigação-acção-participação. Estas metodologias serão usadas em doses mais ou menos preponderantes, de acordo com o desenrolar da investigação participada pela população.
Para a concretização desta estratégia, diversos métodos, técnicas e instrumentos devem ser mobilizados:
i) Análise de documentos (os jornais locais que cessaram publicação e um ainda existente e bibliografia sobre a aldeia ou sobre comunidades rurais e saberes populares em Portugal);
ii) Diário de campo, com registo das observações directas e participantes efectuadas;
iii) Entrevistas semi-estruturadas, com informantes privilegiados da comunidade, registadas em suporte áudio; entrevistas estruturadas com outros líderes e eleitos locais;
iv) Manuais de saberes populares construídos pela população local em acções adequadas de educação não formal de adultos, por exemplo através da realização de fóruns de auto-diagnóstico;
v) Histórias de vida de informantes privilegiados da comunidade, conhecedores da temática: curandeiros, endireitas, artesãos, poetas e músicos, entre outros.
O investigador assume uma atitude de aceitação dos saberes locais, os quais reconhece como fundamentais para a (re)construção de uma identidade cultural própria. Por outro lado, este reconhecimento é acompanhado de um conhecimento prático desses saberes - ainda que noutros contextos histórico/culturais - os quais serão manuseados na interacção com a população, de forma a desenvolver um compromisso de valorização e utilização prática do estudo, na promoção comunitária.
O que caracteriza a investigação qualitativa (IQ) é a multiplicidade de métodos e técnicas utilizados, dada a cada vez maior complexidade das sociedades contemporâneas. Aliás, sem a dita mensurabilidade dos dados quantitativos – estatísticas, percentagens, médias, – a investigação qualitativa deve usar a maior variabilidade metodológica.
Segundo vários autores é essa complexidade de métodos, os quais determinam um conjunto de características, que define uma investigação como qualitativa. Bogdan e Biklen falam mesmo de um elenco de cinco características principais que a IQ apresenta:
a) O contexto natural/ecológico como fonte dos dados e dos processos de recolha e interacção do investigador e dos actores locais.
b) A descrição precisa e pormenorizada dos dados de qualidade: imagens, palavras, significados, ao invés de números.
c) O processo de construção dos resultados como elemento preponderante para a análise, secundarizando os resultados alcançados no final da investigação.
d) Utilização de análise indutiva, construindo hipóteses a partir dos dados e nunca deduzir hipóteses para confirmar ou rejeitar.
e) Importância decisiva dos significados atribuídos pelos sujeitos às problemáticas em investigação, com o objectivo de construir conhecimento em conjunto.
Outros autores explicitam ainda algumas características dispersas da investigação qualitativa:
i) Carácter sistémico da metodologia.
ii) Objectivo compreensivo e não preditivo da investigação.
iii) Comunhão de interesses e acções dos autores e actores do processo de investigação.
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2. Design de investigação e triangulação dos dados
Podemos dizer que o sucesso do desenvolvimento do projecto de investigação depende quase exclusivamente de uma boa formulação das questões de investigação. Isto porque as questões de partida mobilizam diversos problemas: i) Vocações e disposições do investigador; ii) Existência de dados disponíveis em bibliografia e contextos; iii) Pertinência dos contributos teóricos ou práticos trazidos pela investigação.
A triangulação de dados é uma espécie de bola de dados que circula por várias provas, para que se comparem diferentes abordagens metodológicas. Isto permite o cruzamento de dados, teorias e perspectivas que acrescentam rigor, profundidade, complexidade e diversidade ao estudo.
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3. Como se trabalha a IQ
a) Organizar os dados em memorandos e cadernos de campo, relatados de forma pormenorizada, compreensível e reflexiva.
b) Utilizar o maior número de dados disponíveis mas sem atropelos entre dados fundamentais e desnecessários.
c) Apresentar dados de forma gráfica e sintética.
d) Efectuar categorização adequada dos dados, de modo a facilitar a sua movimentação, a partir de gavetas separadas.
e) Desenvolver análises sequenciais de dados ao longo da investigação para permitir recomendações às perguntas de partida e às que se vão construindo.
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4. Exemplo de um design de investigação qualitativa
Pretende-se desenvolver uma investigação sobre a importância dos saberes populares na construção de um museu local comunitário, numa comunidade rural.
Como pergunta de partida coloca-se a seguinte questão: Que influência podem ter os saberes populares na definição do objecto museológico que enformará todo o processo de desenvolvimento de um museu local? A partir daqui pode desenrolar-se um conjunto de tópicos:
i) Que saberes populares podem ser considerados; o conceito de saber popular é idêntico para todos os intervenientes.
ii) Os saberes populares são considerados como tal pela população local ou são desvirtuados, desvalorizados ou representados.
iii) Esses saberes influenciam decisões de política de construção ou de política cultural; Serão eles representativos da comunidade.
iv) Porque não usar outro(s) tipo(s) de saberes, em exclusividade ou complementaridade.
De seguida poderiam apontar-se alguns objectivos operacionais para o estudo, designadamente:
a) Conhecer o conjunto de saberes populares da comunidade;
b) Desenvolver um processo de valorização comunitária desse saber;
c) Estimular a utilização desse saber nas acções e iniciativas a desencadear na comunidade;
d) Tornar alguns saberes populares, matéria-prima decisiva para a definição do museu local.
Dadas as condições conjunturais da aldeia de Alte, no barrocal do concelho de Loulé (Algarve) - dinâmica comunitária e associativa; diversos estudos científicos realizados; conhecimento do investigador; população aberta e disponível; fontes de informação sistematizadas; - esta poderia ser a comunidade rural escolhida para o estudo.
A investigação deve definir como população de estudo os moradores do aglomerado populacional de Alte, sede de freguesia, no conjunto dos seus vários grupos sociais e profissionais, que habitualmente se disponibilizam para estudos desta natureza.
As características deste estudo qualitativo deve determinar a utilização de estratégias metodológicas diversificadas, de entre as quais nos parecem fundamentais: o estudo etnográfico, a história de vida de líderes privilegiados da comunidade e a investigação-acção-participação. Estas metodologias serão usadas em doses mais ou menos preponderantes, de acordo com o desenrolar da investigação participada pela população.
Para a concretização desta estratégia, diversos métodos, técnicas e instrumentos devem ser mobilizados:
i) Análise de documentos (os jornais locais que cessaram publicação e um ainda existente e bibliografia sobre a aldeia ou sobre comunidades rurais e saberes populares em Portugal);
ii) Diário de campo, com registo das observações directas e participantes efectuadas;
iii) Entrevistas semi-estruturadas, com informantes privilegiados da comunidade, registadas em suporte áudio; entrevistas estruturadas com outros líderes e eleitos locais;
iv) Manuais de saberes populares construídos pela população local em acções adequadas de educação não formal de adultos, por exemplo através da realização de fóruns de auto-diagnóstico;
v) Histórias de vida de informantes privilegiados da comunidade, conhecedores da temática: curandeiros, endireitas, artesãos, poetas e músicos, entre outros.
O investigador assume uma atitude de aceitação dos saberes locais, os quais reconhece como fundamentais para a (re)construção de uma identidade cultural própria. Por outro lado, este reconhecimento é acompanhado de um conhecimento prático desses saberes - ainda que noutros contextos histórico/culturais - os quais serão manuseados na interacção com a população, de forma a desenvolver um compromisso de valorização e utilização prática do estudo, na promoção comunitária.